Carta para o futuro – Aposentadoria e Investimentos – Modo de Usar
Taxa Básica no Brasil com SELIC a 4,5% ao ano.
- Mundo: Taxas de juros nos países desenvolvidos tendendo a zero, quando não negativas. A LVMH MOET SE (conhecida como Louis Vuitton) captou recursos no mercado em 2019 pagando juros negativos. Isto mesmo, o investidor paga para emprestar recursos a esta Companhia.
Os Bancos Centrais, tanto da Europa quanto dos EUA, foram “obrigados” a fazer uma gigantesca injeção de liquidez (conhecida como QE – Quantitative Easing), isto é, colocar recursos nas suas economias. Dá-se conta que apenas o FED (BC Americano), injetou USD 4.1 Trilhões nos EUA, entre 2010 e 2015. Ou seja, há excesso de recursos. Por um lado, isto aumenta o valor dos ativos, em diversos casos, artificialmente. Por outro, geraria pesados custos de juros aos Tesouros Nacionais em remunerar a quem emprestou estes recursos a serem injetados. Explico a condicional “geraria”, pois com juros, atualmente, neutros/negativos, não gera.
Em abril deste ano, segundo o MarketScreener, havia USD 10 TRIlhões em títulos de governo em circulação até 2049 com remuneração negativa.
A taxa de remuneração para depósitos no Banco Central Europeu era, em abril de 2019, de -0,4%, e hoje é de -0,5% ao ano.
- Demografia e impactos:
A questão demográfica é fator crucial de insustentabilidade dos sistemas previdenciários mundo a fora. França e Alemanha vêm fazendo sucessivas pequenas reformas há décadas. O Brasil fez algumas tímidas anteriormente e, em 2019, uma mais sustentável. O pacto geracional previdenciário não será honrado, quem hoje sustenta tal sistema, não terá à sua disposição sistema semelhante. “Pagou mas não levou”. Isto traz ainda mais autorresponsabilidade, sobretudo, para os servidores públicos, os quais, no Brasil, possuem regime previdenciário mais benéfico que os trabalhadores da iniciativa privada.
O aposentado do futuro no Brasil será aquele capaz de equacionar suas necessidades dentro do pouco que proverá o Estado, adicionando à renda provida pelo Estado aquilo que fora capaz de acumular durante os anos laborais. O detalhe é que este acúmulo tende a ser extremamente mais lento pelo fato de os juros serem baixos. O efeito da capitalização composta será neutralizado.
Para fins de exercício e considerando o horizonte de juros baixos, imaginemos um cenário de juros reais* zero, com as seguintes premissas:
Entrada no mercado de trabalho: 30 anos;
Aposentadoria: aos 65 anos, logo contribuiu por 35 anos;
Salário Líquido: R$ 10.000,00;
Capacidade de poupança: 30% dos ganhos, ou R$ 3.000,00;
Este cidadão, imaginando que viveria até os 100 anos, ou seja, mais 35 anos após aposentar-se, agora teria uma renda de R$ 3.000,00/mês durante 35 anos, adicionando aos R$ 3.000,00 o que o Estado for capaz de lhe prover.
*juros reais: juros obtidos na aplicação, após retirada a inflação
- Realidade nos EUA:
Em países de juros baixos, não é possível se aposentar mantendo o padrão de vida que se tinha quando era trabalhador ativo, sem que o investidor tenha buscado rentabilidades acima dos juros básicos. No Brasil, os juros básicos sempre foram altos, o que mascarou durante razoável tempo a necessidade dos investidores de buscarem ativos de maior retorno, e, consequentemente, maior volatilidade e/ou risco.
Em Congresso de Finanças nos EUA, em 2018, conversando com um dos acadêmicos que apresentou um estudo bastante detalhado e com análise pesada de dados, este foi categórico: “Não houve qualquer americano que entrou no mercado de trabalho entre 1950 e 1980 e se aposentou mantendo padrão de vida de quando era ativo sem investir pelo menos 48% em renda variável”.
O Vanguard Target Retirement 2030 Fund, um dos fundos de aposentadoria da Vanguard, uma das maiores prestadoras de serviços financeiros dos EUA, com foco para 2030, possui hoje 75% dos ativos em renda variável e 25% em títulos de renda fixa. Vale notar que a taxa de administração deste fundo é de 0,14% ao ano (a.a.).
- Convergência do Brasil para a realidade Americana:
Com a queda nas taxas de juros, o brasileiro terá que passar a dar mais importância a alguns aspectos que antes eram relativamente ignorados. São estes: eficiência operacional (taxa de administração dos fundos) e eficiência fiscal (há alguns produtos isentos ou que geram aumento de restituição).
Das eficiências fiscais, há o “tax shield benefit”, em bom português, a dedução fiscal, representado pelo PGBL, para quem tem rendimentos tributáveis. Vale lembrar que não é tão simples quanto gozar o benefício fiscal apenas por aportar, mas há que se fazer uma detalhada seleção de fundo(s) e a estratégia deste(s), bem como escolher em que seguradora deve-se aportar. Necessário observar, também, os investimentos em previdência em relação ao portfólio global do investidor. Ainda sob a ótica da eficiência fiscal, há os produtos de crédito privado, em alguns casos isentos de imposto de renda, o que gera uma maior rentabilidade para o investidor que estiver disposto a correr o risco de crédito de tal emissor. Este produto, em doses de diversificação por emissor na carteira, pode trazer excelente resultado na parte de renda fixa.
Na seara da eficiência operacional, uma parte o próprio mercado vai precisar se ajustar. Há um famoso fundo, gigante em termos de recursos captados, que cobra 4% a.a. de taxa de administração. Este dinossauro, ainda vivo, é uma exceção. Dificilmente nascerá mais algum destes, pelo menos em períodos com as atuais configurações do mercado. Logo, o mercado tenderá a se tornar mais eficiente para o investidor, seja por concorrência entre as gestoras (Assets), seja para não machucar a rentabilidade do investidor e do próprio gestor. Mas é fundamental que o investidor se aproprie dos conceitos de custo do seu fundo e avalie se esta taxa é ou não adequada à proposta de valor do fundo.
- Resumindo
O Mundo com extrema liquidez, dinheiro farto e barato, o Brasil se reformando e com um horizonte fiscal mais previsível pós reforma da Previdência. Juros reais (SELIC menos inflação), no Brasil, abaixo de 1% a.a..
Acrescente a isto fatores como o câmbio demográfico, o descumprimento do pacto geracional e os fortes sinais de fadiga dos orçamentos públicos, em todo o mundo ocidental. Exemplo do que ocorre nos EUA, onde há uma dívida de USD 22 trilhões para um PIB de USD 21 trilhões, relação dívida/PIB de 105%. No Brasil, este indicador ainda está na casa dos 80%.
Resultado, o cidadão terá que dedicar mais tempo, educar-se minimamente ou ter alguém ao seu lado para auxiliá-lo a cuidar do seu futuro financeiro.
Assim como em diversas áreas de conhecimento, há especialistas. Eleja o especialista que mais te agrada, seja do ponto de vista do conhecimento, seja do ponto de vista do modelo de atendimento.
Democratização e acesso às plataformas de investimentos, nas quais a compra de produtos financeiros é tão ou mais fácil do que comprar um aplicativo na appstore, é uma coisa. Saber de forma planejada e estruturada o que, quando e por que comprar tal produto, à luz do atual cenário econômico, do momento e das projeções de vida, É OUTRA!
Contrate um profissional de sua confiança, que possa te assessorar independentemente da sua escolha de banco, corretora, plataforma ou seguradora, e que respeite o teu perfil e capacidade de correr riscos. Busque saber quanto custam os serviços e de forma ele é remunerado. Mitigue o conflito de interesses. Assuma a responsabilidade pela sua saúde financeira. Alguém vai ter que trabalhar para sempre, ou você ou o seu patrimônio!
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